Arquivo da tag: Sérgio machado

SÉRGIO MACHADO, EDITOR

Capturar

A morte do Sérgio Machado, para além do sentimento de perda de um amigo – pois assim o considerava – suscita algumas reflexões sobre a nossa indústria editorial, a partir da sua vida.

Estava no comando do grupo Record, o maior grupo editorial “trade” do país, desde 1991, quando da morte de seu pai e fundador da editora, Alfredo Machado. Sérgio, economista de formação, já estava há alguns anos trabalhando na empresa da família. A Record, fundada por Alfredo e seu cunhado, Décio Abreu, morreu naquele ano, deixando a editora nas mãos de três filhos: Sérgio, Alfredo Jr. e Sonia. A editora, fundada no âmbito e com as características de empresa familiar, continuava sob controle da família, sem capital aberto.

Um dos grandes desafios das empresas familiares, de todos os ramos, é a solução da sucessão do fundador. Todos os irmãos trabalhavam na editora, mas Sérgio e Alfredo tinham pontos de vista diferentes sob vários pontos. As divergências entre herdeiros provocam turbulência e podem mesmo por a pique a empresa. Sérgio comprou a parte de Alfredo e, com a irmã, assumiu o controle total do grupo.

Em 1997, um evento abalou a família Machado e o mercado editorial brasileiro. Sonia Machado Jardim foi sequestrada, e permaneceu semanas em poder dos seus captores. Sérgio estava nos EUA, onde fazia um curso – coincidentemente sob negociações – e voltou ao Brasil. Junto com o irmão e o marido de Sonia, Antonio Carlos, conduziram as negociações que resultaram na libertação de Sonia, em troca do pagamento de um resgate de valor não especificado.

Durante todos esses anos, o processo de concentração do setor editorial avançou muito, principalmente com a chegada de grupos editorais estrangeiros, que investiram pesadamente, seja na aquisição de empresas já existentes (Santillana comprou a Moderna; a Planeta se instalou por aqui, assim como outras espanholas, como a SM e a Oceano, e portuguesas, como a Leya). Sérgio sempre afirmava que, como comerciante, estava sempre aberto para negociações, pois comprar e vender era o que sabia fazer.

Só que, em vez de esperar que sua editora fosse comprada, Sérgio e Sonia partiram para o crescimento, adquirindo eles mesmo várias editoras nacionais. Desse modo, foram incorporadas ao grupo a Bertrand Brasil (que já era controladora da Civilização Brasileira e da Difel), a José Olympio (que faliu com os sucessores do patriarca e fundador e passou pelas mãos do BNDES e de Henrique Gregory um executivo da Xerox do Brasil), a BestSeller, comprada de Richard Civita, e mais recentemente a Paz & Terra, comprada dos herdeiros de seu fundador, Fernando Gasparian, e a Rosa dos Tempos, fundada por Rose Marie Muraro e Ruth Escobar. Paralelamente, fundou outras editoras/selos, como a Galera e a Galerinha Record, a Nova Era, BestBolso, BestBusiness e a Verus. Com isso, a Record foi firmando seu pé em vários segmentos do mercado, como o de livros infantis e juvenis, a literatura feminista, negócios, esotérica e de fantasia.

Ao robustecer sua empresa, usou a mesma tática das estrangeiras, ampliando sua ação.

Continue lendo SÉRGIO MACHADO, EDITOR

Estação Leitura – a depredação

Há alguns dias li, n’O Globo, uma matéria sobre a instalação de uma biblioteca em uma estação de trens da Supervia, a antiga linha da Central do Brasil, em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro.

O projeto foi desenvolvido pelo Instituto Oldenburg, dirigido pela Cristina Oldenburg, que conheci há vários anos em função de outro projeto por eles desenvolvido, o das Salas de Leitura.

Esse projeto contou com a colaboração inicial do Sérgio Machado, presidente do Grupo Editorial Record. Sérgio Machado sempre foi muito atento para as questões relacionadas com o ciclo de vida dos livros. Depois de certo tempo, o circuito tradicional de vendas de livros se esgota, e sobram apenas vendas residuais, geralmente via Internet. Assim, esses exemplares ficam em depósito, provocando gastos adicionais de armazenamento e logística. O conhecimento desse problema é uma das raízes do Programa do Livro Popular, que busca estabelecer um novo ciclo de vida para essa imensa riqueza editorial não mais encontrável com facilidade nas livrarias, mas que pode ser recolocada no mercado em outras condições.

Bem, a Estação Leitura instalada na estação de Madureira foi depredada semana passada, assim como quase toda a estação ferroviária, pelos usuários revoltados com os atrasos e problemas dos trens. Aqueles mesmos trens que há décadas já motivavam sambistas a comporem os lamentos por sua ineficiência: “Patrão, o trem atrasou, por isso estou chegando agora…”
Continue lendo Estação Leitura – a depredação