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Como editoras e livrarias andam [mal]tratando seus [meta]dados por aqui

Na apresentação que Richard Stark fez em Bogotá sobre a questão dos metadados, há uma lista de elementos mínimos que deveriam ser disponibilizados pelos editores para os elos seguintes da cadeia do livro. Para distribuidores e livreiros terem conhecimento de algumas das condições de comercialização do produto. Para o público leitor – e isso é ainda mais importante – de modo a que o livro possa ser facilmente encontrado pelos mecanismos de busca eletrônicos e para que o eventual comprador saiba qual é seu conteúdo.

Alguns desses componentes são ocultos, pois dizem respeito somente à relação editor/distribuidor-livreiro. Outros devem ser necessariamente complementados com informações próprias do distribuidor/livreiro. Na lista apresentada no post anterior, seriam esses: preço (o livreiro tem que especificar seu(s) preços e condições, que são eventualmente diferentes dos do editor); código de desconto proprietário do editor, que tem que ser complementado pelos eventuais descontos dados pelo livreiro; código de disponibilidade do produto, que deve ser complementado pelos códigos do livreiro (disponibilidade de entrega, prazos, etc.); código de devolução (ou das condições de consignação, que são elementos da relação comercial editor/livreiro). Ou seja, de uma lista de trinta, podemos considerar que quatro dizem respeito à relação entre editor-livreiro e que devem ser acrescidos pelas informações das próprias das relações livreiro-comprador final.
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Memória, História e Narrativa a partir do ponto de vista de uma ficcionista

O texto é da Maria José Silveira e foi sua participação no Fórum das Letras de Ouro Preto.

A Maria José não gosta de improvisar quando participa de mesas-redondas. A vantagem é produzir textos reflexivos e importantes sobre sua vida de escritora.

Então, lá vai:

O tema que nos coube hoje é grandioso, já que vamos tratar – nada mais nada menos – da tríade fundamental para a literatura. Uma tríade tão entrelaçada que é quase impossível dizer qual das partes é , digamos, seu fundamento. Qual o ovo, qual a galinha.

Mesmo assim, aqui, como uma proposta para começar nossa conversa, terei a ousadia de dizer que o fundamento do trio, a base desse triângulo equilátero, é a narrativa, pois sem a narrativa não teríamos memória e não conheceríamos a história. Tenho bons acompanhantes nessa escolha, inclusive aquele famoso comecinho que diz “No princípio era o verbo”, pois o que é a narrativa senão o verbo? E também Roland Barthes, estudioso do tema, quando afirma que “a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades, começa com a própria história da humanidade.”
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Nossa elusiva matéria prima

Uma das coisas que aprendi nessa faina do mercado editorial é que o mundo dos livros é um reflexo do mundo real. Cabe tudo. Das coisas mais sublimes às calhordices mais inomináveis. Como papel (e agora, bits) aguenta tudo, é possível encontrar toda e qualquer coisa impressa e sendo vendida (ou empurrada, ou doada por conta de outros interesses) no mundo do livro.
Essa variedade me fascina.
Do lado positivo, há o aprendizado de uma lição de humildade: o que eu gosto, o que me satisfaz intelectual e esteticamente, não é nem (necessariamente) o melhor nem é o que o OUTRO precisa para satisfazer o mesmo tipo de necessidades. E isso não é uma rendição a um relativismo absoluto: o que acho uma porcaria tenho minhas razões para considerar assim e não pretendo mudar de opinião. Mas, quando analiso políticas públicas de acesso ao livro, devo reconhecer o direito do outro gostar (ou ter necessidade) do que eu não gosto ou até mesmo desprezo.
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