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Livros eletrônicos, mercado tradicional e etc.

A polêmica suscitada pelo artigo do Paulo Tedesco continua, e isso é muito bom. A última contribuição foi do Haroldo Ceravalo, que procura evitar maniqueísmos.

Mas merece alguns reparos.

1- A questão do capital das editoras pequenas e médias. Sinto dizer, mas o problema não é de agora e está longe de se referir ao livro eletrônico. No meu livro “O Brasil pode ser um país de leitores”, que é de 2004, já assinalava que dois grandes problemas da nossa indústria editorial (entre outros, certamente) eram a falta de capital e a capacitação profissional dos editores. Quem quiser acompanhar o raciocínio completo pode comprar o livro e buscar o trecho em questão – afinal, a Summus e eu vivemos de vender livros. Aliás, o Gabriel Zaid, no seu “Livros Demais”(também editado pela Summus, com minha tradução) assinalava isso: “entrar” no mercado editorial é mais fácil que montar uma quitanda. O problema é o capital para aguentar o tranco. Acrescente-se a isso o fato de que os mecanismos tradicionais do mercado fazem as editoras financiarem as livrarias. Está lá no livro também.

2- Nenhum desses dois problemas foi equacionado até hoje. Portanto, continuam existindo. Ou alguém acredita que a maioria das editoras pequenas e médias dispõe de pessoal capacitado tanto do ponto de vista editorial como de marketing, administração e quejandos? Nem nas grandes a capacitação profissional é generalizada… Quanto à questão da capitalização, quem leu o livro do schiffrin Schiffrin sabe bem do que falo.

3- Ler um PDF na tela é um saco. Para imprimir, haja papel e toner. Mesmo as versões mais atuais da Adobe não têm nem fração das facilidades de navegação que o ePub mais chinfrim tem. Para ler com algum conforto é preciso imprimir. Se é para rabiscar e fazer anotações, devo dizer que faço isso com a maior facilidade no Kindle ou no Kobo, e posso arquivar minhas marcações sem precisar ficar folheando a papelada. Sinceramente, para mim o PDF não serve mais nem para garantir a integridade dos textos, já que atualmente é totalmente editável, e acho que o PDF é que é carroça. Mas de gosto não se discute.

4- A Amazon e a Kobo realmente só aceitam arquivos de editoras comerciais em ePub (os auto publicados podem ir em Word). Mas a Saraiva e o Google, o Wook (português) aceitam o envio de arquivos em PDF e eles mesmo os transformam (a Árvore de Livros também). Ou seja, existe preguiça até mesmo de experimentar…

5- É verdade que os leitores de livros eletrônicos são caros. Só que, segundo o Retratos da Leitura no Brasil, a maioria dos que leem livros eletrônicos o faz em tablets e celulares, e todas as lojas divulgam os respectivos apps.

6- Acho que o DRM é um problema muito maior. Especialmente para quem não tem familiaridade com os truques. Da minha parte, quebro tudo e guardo na minha máquina, que dessa história de arquivar na “nuvem” é que não sou lá muito fã.

7- Já escrevi tantas vezes sobre a impressão sob demanda que me abstenho de comentar mais, por enquanto. Tanto no PublishNews quanto aqui no O Xis do Problema deve ter bem uns vinte posts sobre o assunto, quantidade que só perde para os posts sobre metadados.

De qualquer maneira, o artigo do Haroldo é bem ponderado e revela algumas das preocupações mais urgentes dos pequenos e médios editores.

Só para finalizar. Hoje leio tudo que posso no formato eletrônico. Mesmo livros complexos, como a série do Gaspari, a Cindy Leopoldo provou que o ePub 3 aguenta o tranco muitíssimo bem, e valorizou os livros com o material adicional. Livros de arte e infantis sim, não ficam bem (os infantis estão virando apps, e são muitas vezes bem ruinzinhos).

Mas continuo lendo e comprando livros em papel, e ninguém tasca a mão na minha edição da Pléyade da Comedie Humaine, balzac pléyadeou na do Don quijoteQuijote da Alfaguara. Mas essa polêmica de se o eletrônico vai “acabar” com o impresso é das coisas mais ociosas que já apareceram.

 

LIVROS DE COLORIR, LIVROS DIGITAIS, LIVROS. SER OU NÃO SER UM LIVRO?

Hamlet-05 Um dos blogs que costumo seguir é o do catalão Bernat Ruiz, Verba Volant, Scripta Manent (nada a ver com a epístola do usurpador). O post desta semana, Libros que nunca lo fueron, coincidentemente, saiu no mesmo dia em que o PublishNews publicou post do Paulo Tedesco, Um e-book de fracasso,  no qual se dedica a desvalorizar os e-books (a polêmica prossegue com a resposta do André Palme e uma intensa discussão no Facebook).

Na verdade, os dois artigos tangenciam o tema que marca este texto. O do Bernat Ruiz está muito mais focado na questão de se os livros de colorir para adultos podem ou não ser considerados livros.

Mas vamos, lá, começando pelo Ruiz.

Ele anuncia que a HMRC britânica, mais ou menos equivalente à nossa Receita Federal, enviou correspondência às editoras do Reino Unido exigindo o pagamento de IVA para “los cuadernos de colorear para adultos”. Nossos populares (no ano passado) livros de colorir.

O Reino Unido não cobra IVA de livros, livros infantis de pinturas e gravuras, mapas e cartas geográficas, revistas, Jornais, música impressa ou copiada (partituras) e publicações (alguns tipos de publicações, como livros de exercícios e cartazes, pagam a taxa padrão). Existe uma discussão pendente (na União Europeia em conjunto e em cada país, e também por aqui, sobre os livros eletrônicos).

E Sua Majestade anunciou que vai cobrar o imposto dos livros de colorir para adultos. Esse o tema do post do Bernat Ruiz.

Livros de colorir são livros?

Uma polêmica que existiu aqui também, e se esvaneceu. Os livros para colorir foram aceitos como livros e, portanto, imunes à tributação.

Barnat, entretanto, esmiúça a polêmica. Cita a definição de livro da UNESCO (a famosa que define livro como publicação de pelo menos quarenta e nove páginas fora a capa), a Lei do Livro Espanhola; cita a Wikipédia e outros quetais. No final, lamenta que sejam as autoridades fiscais que definam o que é livro e aí, sim, entra na seara do livro digital.

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