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LIVROS BONS E LIVROS RUINS – COMO É MESMO ISSO?

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A distinção entre livros bons e livros ruins é algo que assombra o sentido comum. Afinal, cada um de nós qualifica o que lê (ou o que quer ou não ler) dessa maneira. É um bom livro (e por isso gostei dele), ou é um livro ruim (portanto, detestei). Fazemos isso todos os dias (e não só a respeito de livros, é claro), e esse exercício de distinção passa pela crítica, pelas resenhas de jornais e, certamente, pela avaliação das editoras que decidem publicar ou não determinado original.

O assunto desborda das escolhas individuais (ou empresariais) até para o terreno das políticas de aquisição de acervos para bibliotecas públicas. Há quem defenda que só devem ser colocados à disposição dos leitores não apenas livros bons, mas os que “transformem” o leitor em um ser humano melhor. E por aí vai.

Pierre Bourdieu, em seus estudos de sociologia, elaborou alguns conceitos que nos podem ser úteis. O sociólogo francês assinala que as avaliações de qualidade – ou aquilo que sua discípula Pascale Casanova viria a chamar de “capital literário” – depende de relações internas no campo da crítica, e da produção literária, no caso da que se considera culta. As disputas de poder no campo literário adquirem uma dinâmica própria, que leva a sucessivas transformações na escala de valores do que é considerado “bom”, “inovador”, “medíocre” ou de “mau-gosto” e assim sucessivamente.

Essas disputas dentro de campos podem muito bem ser – e de fato são – interpoladas com o que acontece em outros campos. Por exemplo, os livros que os pedagogos podem levar em alta consideração (no campo da pedagogia, ou como úteis para o ensino de literatura, por exemplo), podem não ser idênticos aos que os críticos literários talvez valorizem. Livros que esses consideram inovadores, ou que apontam para caminhos promissoramente transgressores (com um sinal positivo nessa transgressão), podem ser considerados nocivos pelos pedagogos.
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