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LIVROS DEMAIS – PRAZER E DEVER

Moramos em um apartamento grande, comprado quando os filhos ainda estavam conosco. Agora grande demais. Então, decidimos tentar vender e comprar algo um pouco menor, mais manejável. Com as atuais circunstâncias de mercado, não está fácil. Mas queremos fazer isso.

Mudar de uma casa maior para outra menor significa desapegar, diminuir o peso e o tamanho da carga.

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A verdade é que, nesses anos todos, o que mais cresceu foi nossa biblioteca. Como eu e Maria José somos ligados ao mercado editorial, digo sempre que livro, na nossa casa, não dá filhote: dá ninhada. Só na semana passada, por exemplo, o correio entregou dois novos livros do filósofo Gabriel Zaid, gentilmente enviados por ele. Como sou um admirador (e tradutor) do Zaid, “Cronología del Progreso” e “El Secreto de la Fama” saltam para o topo da pilha. Some-se ainda o exemplar de “O exílio do Homem Cordial”, ensaio sobre Sérgio Buarque de Hollanda escrito pelo meu amigo João Cézar de Castro Rocha. Também para o alto da pilha, além do romance “Cabo de Guerra”, da Ivone Benedetti, que tem como tema os “cachorros” infiltrados pelos militares nas organizações de esquerda durante a ditadura.

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Os livros se espalham pela casa inteira

Assim, apesar da tentativa sempre presente de esvaziá-las, as prateleiras vão se enchendo, e todos os cômodos da casa acabam tendo que ceder espaço para os livros. Apesar de sermos leitores compulsivos, desde a adolescência, e sempre termos orgulho de nossos livros, não temos “espírito de colecionador” e muito menos disposição de construir uma biblioteca de modo sistemático.

Dessa maneira, no decorrer dos anos, várias “baixas” foram sendo dadas. Os livros de antropologia, por exemplo. Fiz uma lista de tudo que sabia que não mais leria ou releria, e mandei para a biblioteca do PPGAS – Programa de Pós Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ, onde fiz o mestrado. Falei com a bibliotecária que escolhesse os que queria. Só tinham que conseguir mandar buscar. Foi quase tudo, salvo os muito comuns, dos quais já havia vários exemplares por lá. Depois fiz uma grande lista de livros para Maria Zenita, bibliotecária que na época chefiava o Departamento de Bibliotecas Públicas da PMSP, escolher os que achava úteis para incorporar ao acervo do sistema de bibliotecas públicas da cidade. Quis todos.

(Diga-se de passagem, fico sempre com pena das pobres bibliotecárias que fazem campanhas de doação de livros, diante da penúria de recursos para adquiri-los. Na maioria absoluta dos casos, o que as pessoas fazem – conscientes ou não – é tirar o livro velho e inútil, o lixo, de casa, e deixar na porta das bibliotecas. Já vi cada coisa…). Mas não era esse o caso. Modestamente, os livros eram bons e tive o cuidado de perguntar se seriam bem-recebidos.

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