A frase é de Michael Cader, o organizador da Digital Book World Conference que recém terminou. Cader, que é um dos mais renomados especialistas em análise de dados do mercado editorial, marcou vários pontos nos últimos dias.
O primeiro é o reconhecimento da complexidade do mercado e, principalmente, das sérias inconsistências dos dados disponíveis para análise de seu desempenho (em geral e de cada livro, ou editora, em particular). E isso, vindo de alguém que é dos mais dedicados defensores da importância dos metadados, não é pouca coisa.
Cader estava falando dos dados sobre o mercado dos Estados Unidos. Se olhasse os daqui, teria um faniquito.
A razão, explicou ele, é que o mercado é tão complicado “que é quase impossível ter uma apreciação clara dele”. E as razões enumeradas se resumem ao fato de que “as três fontes primárias de dados sobre vendas não pintam nada que se assemelhe a uma visão geral”.
Quais são essas três fontes? A Association of American Publishers (AAP) monitora vendas de livros impressos e digitais a partir de números fornecidos pelos editores. Só que, como a AAP registra basicamente as vendas de editoras grandes e médias, é impossível saber “o desenho total da paisagem” que esses números representam. (Existe outro fator complicador, tratado mais adiante).
A outra fonte é o Nielsen Bookscan, que monitora as vendas de livros impressos. Mas essa, como sabemos, lá e aqui, só monitora a venda de grandes clientes: redes de livrarias (e nem todas), a parte do segmento de “linha branca” que vende também livros (Americanas, Ponto Frio e congêneres). Lá, como aqui, o Bookscan é preciso nesse registro no que diz respeito a unidades vendidas e o preço de venda de cada unidade. Mas não tem condições de informar sobre o faturamento total da indústria editorial. Acompanha com precisão – como aliás temos visto nos relatórios divulgados aqui pelo SNEL – aquilo que é vendido nos pontos de venda que eles acompanham. Quem não está ligado ao sistema da Nielsen está fora. E isso inclui não apenas todas as livrarias independentes, como também a segmentação de vendas que é feita através das distribuidoras. Das vendas ao poder público, então, nem falar.
Finalmente, a PubTrack, que cobre apenas ebooks. Originalmente fundada pelo Bowker, hoje é controlada também pela Nielsen, e divulga seus dados a cada três meses.
Entretanto, o problema é ainda maior. Os grandes varejistas eletrônicos não fornecem nenhum dado agregado. Amazon, Apple, Google e Kobo informam as editoras sobre suas vendas, é claro. E essas informam o PubTrack, na periodicidade acertada.
Mas a discrepância continua: qual a parcela das vendas das grandes editoras no conjunto do mercado editorial dos EUA?
O grupo Author Earnings que congrega especialmente os autores independentes, ou seja, os auto-publicados, já há muito contesta furiosamente os dados apresentados por essas três fontes. Sustenta que o segmento da auto-publicação é muito maior do que as editoras estabelecidas pensam, e que esses dados estão simplesmente errados.