Um dos segmentos menos conhecidos do mercado editorial e livreiro é o de sebos, e o de venda de saldos e pontas de estoque. O segmento que desfruta de um certo prestígio é o dos sebos de livros raros ou antiquários. Neles se vendem exemplares que podem chegar a centenas de milhares de dólares. O Dr. José Mindlin era um grande conhecedor dos melhores sebos de raros do mundo – ele mesmo chegou a possuir um – pois ali estava uma das fontes de sua fantástica biblioteca.
O menos prestigiado é o de livros de saldos, ou ponta de estoques.
E há um grande equívoco quanto a isso.
As pessoas geralmente equivalem saldos a “encalhes”. O livro encalhou, não vendeu – portanto não teve sucesso e foi acabar nas pontas de estoque. Ledo engano.
A formação dos saldos é um processo normal no mercado editorial. Se uma edição de 3.000 exemplares vendeu, por exemplo, 2.500 exemplares, isso não justifica uma reedição, tampouco é sinal de fracasso. Mas sobram 500 cópias no depósito das editoras. Da mesma maneira, um livro que mais tarde pode vir até ser considerado “cult”, ou um livro de leitura difícil, pode ter uma edição de apenas mil exemplares e deixar quinhentos no depósito. E também acontece o caso do editor errar a mão: um livro está vendendo bem e ele manda rodar uma nova tiragem alta, e o título para de vender. Aí podem sobrar no depósito milhares de exemplares. E é o que acontece.
A expansão das vendas com direito à devolução nos EUA e as consignações, no Brasil, intensificou a produção desses estoques não vendidos. Nos EUA o panorama é claro. As devoluções geram um retorno de aproximadamente 30% do vendido, na média. Quando a editora investe em uma grande tiragem e as vendas fracassam, isso vira um problemaço. Aqui também, a difusão das consignações leva a uma situação de penumbra: os livros saem do estoque das editoras, mas saber com certeza o quanto foi vendido é bem complicado.
Na raiz disso está o aumento geométrico do número de títulos publicados. Esses livros não encontram espaço de exposição nas livrarias, ou então permanecem expostos (no jargão do mercado, não apenas arrumados em espinha nas estantes, mas com a capa visível em vitrines ou locais de exposição privilegiados) por muito pouco tempo. O que gerou, inclusive, guerra de descontos, quando as livrarias – particularmente as com maior poder de fogo – exigiam condições melhores para expor os lançamentos em lugar de destaque. É praticamente uma venda de espaço, e o livreiro perde o papel de curador de seu estoque, virando um “agente imobiliário” dos lugares privilegiados da loja.
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